sábado, 25 de fevereiro de 2012

5- Capítulo Cinco

2011
Durante a refeição nenhuma palavra foi pronunciada. Sally normalmente estaria agitada - balançando as pernas sem parar – mas ela estava distante como o restante à mesa. Sequer olhou para mim novamente depois que fomos interrompidos no quarto. Sua comida, apesar de mexida pra cá e pra lá, permaneceu toda no prato.
Estava prevendo o momento em que Sally sairia correndo de minha casa em pânico. Ou quem sabe ela não abriria um sorriso enorme convencida de que o ocorrido tinha sido algo de sua cabeça. Eu não sabia o que era pior. Só não queria perde-la, mesmo que o preço fosse ter que conviver com uma esperança que jamais passaria de espera.

Open Your Eyes (Snow Patrol)
All this feels strange and untrue
And I won't waste a minute without you
My bones ache, my skin feels cold
And I'm getting so tired and so old
Tudo isto parece estranho e falso
E eu não vou desperdiçar um minuto sem você
Meus ossos doem, minha pele está fria
E eu estou ficando tão cansado e velho

***
2000
“Feliz aniversário!” Sally me empurrava um embrulho enorme.
Aniversário... Era um dia irritante. Eu negava qualquer tentativa da minha mãe em me fazer uma festa. Tinha que escolher um presente, sendo que eu poderia comprar o mesmo e tudo mais que quisesse em qualquer dia – não entendia o sentido. Por que eu tinha que comemorar esse dia?

The anger swells in my guts
And I won't feel these slices and cuts
A raiva me corrói por dentro
E eu não vou sentir esses pedaços e cortes

“Cinco de janeiro, não é? É hoje mesmo, né? Eu errei a data?” Sally disparou a me perguntar constrangida com a minha reação; não tive uma.
Como ela sabia? Nunca tinha te dito.
Sally ficou pensativa num segundo e no outro voltou a falar. “É hoje mesmo. Tenho certeza.”
Balancei minha cabeça, sem ainda saber o que dizer.
Ela abriu seu lindo sorriso. “Pega, por favor.” Empurrou-me o embrulho novamente.
Peguei.
“Acho que vai gostar. Não sei porquê, mas só conseguia pensar em te dar isso.”
Olhei para o presente, um bocado pesado. “Obrigado.”
“Não está curioso?”
Eu estava surpreso. Surpreso porque era o meu aniversário e pela primeira vez eu gostei disso.
Rasguei o embrulho e o presente ganhou forma. Eu mal podia acreditar. Abri a maleta e lá estava... o primeiro violão de minha vida.
“Gostou?”
Eu devia estar com uma cara de bobo reforçada. “Mas não sei tocar...”
“É eu sei disso.” Ela riu. “Mas meus tios também querem te presentear... Fazem questão de te ensinar.”
Meus dedos passeavam pelo violão que reluzia dentro da caixa.
“Já pensei em tudo! Vai ser o máximo! Meus primos cantam e você toca!”
“E você?”
“Ah eu vou fazer a parte mais difícil.” Olhou seriamente. “Vou cuidar dos ensaios, das saídas da banda e de vocês, né. Não pensem que vou dar moleza.”
Começou a rir e eu a acompanhei.
Passei a aguardar com ansiedade essa data, porque eu sabia que ela iria aparecer. Era o melhor dia do ano. O dia em que eu tinha Sally Carter só para mim.
***
2011
A louça já estava para ser retirada da mesa por uma empregada quando minha mãe se pronunciou. “Pode deixar que eu mesma retiro.” E se virou para mim. “Você me ajuda, Jack?”
Foi quando Sally correu com seus olhos para mim. Esqueci-me de respirar.

I want so much to open your eyes
´Cause I need you to look into mine
Eu quero tanto abrir seus olhos
Por que eu preciso que você olhe dentro dos meus

Mas ela não conseguiu sustentar o olhar por mais de um levantar e abaixar de cabeça.

Tell me that you'll open your eyes [x4]
Me diga que você abrirá seus olhos [x4]

“Tudo bem.” Respondi à minha mãe.
Sally ficou distante novamente.
Peguei alguns pratos e acompanhei a minha mãe até a copa.
“Jack, queria ter uma oportunidade melhor para termos essa conversa, mas com a sua amiga aqui acho que terá que ser assim.” Minha mãe começou logo que chegamos à cozinha. Reparei que não havia nenhum empregado por lá.
Assenti esperando que ela continuasse.
Minha mãe suspirou. “Não sou nem de longe a melhor mãe do mundo, Jack...” Colocou as mãos em meus braços e depois em meu rosto. Tomando nota de cada detalhe de minha face, como velhos conhecidos que passam um longo período sem se ver. Mas ali estava uma mãe e um filho; e o que estava incomodando muito a minha mãe começou a me incomodar também.

9 comentários:

  1. Oh my! A inquieta Ly, quieta... A mãe...
    Mata logo de uma vez! E não aos pouquinhos!

    AMO!
    bjosmil!*.*

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    1. Mita, mais uma dose saindo agora mesmo! *--*

      Thannnks 6love

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    2. Ainda bem que sabe que seu veneno é em doses homeopáticas! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Ain, Suh, quando você faz isso dá vontade de te dar uma surra de vara de bambu! *-----*
    Só vou comentar depois dessa conversa, além do mais quero ficar ouvindo a música e criando a cena Jack & Saly na minha cabeça.

    Bjks!

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  3. Ah, agora entendi porque ele ama tanto tocar. *--*
    Mas essa história da mãe tá me deixando aflita. .aa.
    E a reação da Sally mais ainda. .aa.
    Quero o próximo capítulo hoje, hunf!
    Beijo, bruXuh.

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    1. Jack é um fofo, só ele não sabe kkk *--*

      Próximo capítulo com muita informação pra digerir, preparada?

      Beijoooo!! \õ/

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    2. SOS em doses mais homeopáticas que nunca... Afff Suh!!!

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