segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Final - Primeiro Capítulo Especial

Muitos anos depois

CECÍLIA

Tinha me visto no espelho umas mil vezes naquela manhã. Estava me achando o máximo, sem qualquer sombra de modéstia. Tudo culpa de uma foto antiga que encontrei da minha tia Talita em um dos seus shows; ela estava perfeita. Cabelo na altura do ombro na cor azul turquesa. Fiz questão de deixar o meu exatamente igual. Já tinha exibido meu cabelo exótico para o mundo fazia uns dias, mas o motivo de estar especificamente nervosa naquele momento era porque uma porção de familiares que eu não via há algum tempo chegaria a qualquer momento do dia. Meu tão sonhado aniversário de quinze anos tinha chegado.
Eu não quis nenhuma "super festa", não quis nem chamar meus amigos da escola. Fiz questão apenas que nossa família estivesse presente. Uma música ao fundo, todo mundo reunido na sala contando histórias de quando mais jovens.
Falando assim, faz até parecer que nunca vejo meus parentes. A única coisa que dificilmente acontecia era ter todos reunidos, mas eu tinha memórias muito queridas desses raros momentos.
- Ceci, já tem gente lá embaixo te esperando. Não vai descer? - Minha mãe perguntou me encarando da porta aberta do meu quarto.
Pensei que deveria ser verdade o que dizem sobre as pessoas ficarem mais bonitas aos nossos olhos quando gostamos delas. Porque não conseguia lembrar de nenhum momento em que achei a minha mãe menos que deslumbrante.
- Quem já chegou? - Perguntei animada.
Ela sorriu - Desce e descobre.
Dei, possivelmente, a última olhada no espelho e corri até as escadas. Vi meus avôs por parte de pai e um tio solteirão (meio irmão do meu pai).
Eu sabia que podia deixar os outros com ciúmes, mas não quis me conter e abri o maior sorriso de todos pro meu avó Diogo. Foi o primeiro que abracei e me demorei em seu abraço.
- Melhor avô do mundo! - Eu sempre dizia bem baixinho isso em seu ouvido toda vez que nos encontrávamos.
- Diz isso pra todos. - Ele sempre respondia.
De qualquer forma, eu era uma das poucas sortudas a ter cinco avós. Deram-me meus parabéns.
Meu pai já estava na sala e eu podia apostar que ele era o quarentão mais gato do mundo todo.
- Sally está ocupada? - Minha avó Ana perguntou, mais por educação, imaginei. Ela e minha mãe nunca foram muito próximas.
- Sabe como ela fica quando está organizando festas... - Meu pai respondeu.
Revirei os olhos. Nem tinha o que organizar, minha mãe que ficava inventando...
Continuamos conversando sobre bobagens cotidianas até que chegou quase a família inteira de uma só vez.
Tio Rick realmente me assustou. Ele era ultra mega gato em seu tempo de Fallen Angels, e até nas últimas vezes que o vi pessoalmente não estava nada mal. Mas talvez os divórcios e filhos tenham finalmente pesado em sua aparência, porque parecia ter envelhecido de um dia para o outro uns mil anos.
- O tio não ganha abraço da aniversariante baixinha? - Brincou.
Revirei os olhos - Não sou mais baixinha, tio. - Falei enquanto o abraçava.
Riu como se eu tivesse feito alguma piada.
O tio Caio e o tio Vinícius, que também fizeram parte de Fallen Angels, não tinham nada a ver com os dois jovens que eu via em fotos de seus antigos shows. Suspirei pesarosa com o pensamento. Todos eles tinham mudado bastante. Caio estava com a esposa e Vinícius com a namorada.
Logo atrás dos meninos vi a tia Yasmin. Ela estava sempre organizando eventos para arrecadar fundos para ajudar diversas ONGs. Ao seu lado o tio Derick, um escritor bem sucedido. Muitas das histórias que eu sabia sobre meus pais tinha sido através do livro que ele escreveu muitos anos antes do meu nascimento.
Meus pais eram "chatinhos" para contar histórias; contavam o básico do básico. Se eu quisesse saber um pouco mais, corria para o tio Derick. Eu adorava imaginar meus pais quando jovens e a sua história de amor.
Os dois me parabenizaram.
- Ceci, a Priscila e o Daniel pediram que você os encontrassem lá em casa. - Tio Derick falou.
- Esses dois abusados... - Tia Yasmin comentou sem graça.
Sorri. - Já estou acostumada, tia. Vou lá, então.

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